Estamos cada vez mais exigindo coisas — queremos tudo o que achamos que precisamos, e de preferência, pra ontem. A cobrança por rapidez está em toda parte, e a gente acaba levando isso também pra clínica.

Muitos pacientes chegam esperando um alívio rápido, como se a análise fosse uma prestação de serviço como qualquer outra. Mas será que só suprimir o sintoma resolve? Será que dá pra acelerar o processo sem perder o que ele tem de mais potente?

Freud, em Análise terminável e interminável (1937), já dizia que a análise leva tempo — e que as tentativas de adaptar esse tempo à lógica da indústria não funcionam. Porque a análise acontece na transferência, no vínculo que se constrói entre analista e analisando. E esse vínculo… leva tempo pra se firmar e sustentar as dificuldades que aparecem no caminho.

Lacan abre seu Seminário perguntando o que fazemos quando fazemos análise. E o que ele mostra é que o objetivo não é reeducar ou adaptar o sujeito à realidade, mas possibilitar que ele exista de outras formas, com menos sofrimento.

Na minha experiência, muitos sintomas aparecem como denúncia de um mal-estar social. Não acho que o caminho seja se adaptar a isso — nem emocional, nem comportamentalmente. A análise é, pra mim, um processo de apresentação de alguém a si mesmo. E isso exige tempo, vínculo e ética. Não é prestação de serviço. É encontro.